O incêndio que destruiu uma carreta de etanol e atingiu mais de vinte veículos no Morro dos Cavalos segue sob investigação da Polícia Rodoviária Federal. A tragédia, ocorrida no último domingo, desafiou os esforços das forças de resgate e escancarou a urgência de melhorias estruturais na BR-101.
O acidente, além de causar grandes danos materiais, expôs falhas logísticas e a vulnerabilidade da rodovia. A ausência do tacógrafo queimado limita os dados técnicos e complica a análise da dinâmica do acidente, que continua sem conclusão definida.
Explosão em área crítica da BR-101 mobiliza forças de emergência
A colisão ocorreu no km 233, no trecho conhecido como Morro dos Cavalos, em Palhoça, sul de Santa Catarina. Às 13h37, uma carreta carregada com etanol tombou e explodiu, provocando incêndio que consumiu 24 veículos, incluindo outras carretas. Cinco pessoas ficaram feridas, sendo duas em estado grave com queimaduras de até 3º grau.

O local, um dos mais críticos da rodovia federal, exige atenção especial das autoridades há décadas. Com pistas estreitas, curvas acentuadas e tráfego pesado, o trecho concentra ocorrências de risco elevado. O governador Jorginho Mello reforçou a necessidade de obras estruturais urgentes e voltou a cobrar a construção de um túnel, cujo projeto está travado há anos e tem custo estimado em R$ 1,2 bilhão.
PRF elabora laudo com base em vestígios técnicos
O Laudo Pericial de Acidente de Trânsito (LPAT), de responsabilidade da PRF, buscará reconstruir o cenário da colisão sem contar com o tacógrafo do caminhão-tanque — destruído pelo fogo. Sem o equipamento que registra velocidade e tempo de direção, os peritos dependerão de análises de marcas no asfalto, posição dos veículos e vestígios materiais para estimar a velocidade da carreta.
O processo, segundo técnicos da PRF, exige interpretação de dados indiretos, como deformações nos veículos, distância dos destroços e traços de frenagem. Conforme o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, situações envolvendo produtos perigosos ampliam os critérios técnicos e de segurança, o que pode estender o prazo de conclusão do laudo.
Produtos perigosos e resposta emergencial articulada
O transporte de combustíveis líquidos inflamáveis, como o etanol, segue regulamentação rigorosa da ANTT. Quando ocorre um acidente com esse tipo de carga, o risco de explosão e contaminação ambiental cresce exponencialmente. No caso do Morro dos Cavalos, o fogo atingiu áreas de vegetação e exigiu atuação coordenada entre Bombeiros, Defesa Civil, PRF, SAMU e a concessionária da rodovia.

Foram mobilizadas unidades de combate a incêndio de São José, Palhoça, Imbituba, Garopaba e Pinheira. Ao todo, 36 bombeiros participaram da contenção das chamas e do rescaldo. As equipes usaram seis caminhões de água e ambulâncias para atendimento de vítimas, além de guinchos e equipamentos pesados para remoção dos veículos.
Trânsito colapsado e prejuízos em cadeia
A interdição da BR-101 no domingo causou reflexos imediatos no tráfego da Grande Florianópolis. Filas chegaram a 19 quilômetros e motoristas permaneceram horas presos na rodovia. O bloqueio total durou até as 5h da manhã de segunda-feira, mas a normalização da fluidez ainda demanda ajustes, especialmente no trecho afetado pela queima da pavimentação e danos às faixas.
O transporte rodoviário, responsável por mais de 60% da movimentação de cargas no Brasil, sofre impactos diretos em acidentes como este. Caminhões retidos e cargas comprometidas pressionam o setor logístico e geram prejuízos indiretos às cadeias produtivas, especialmente quando a carga envolve combustíveis, alimentos e insumos hospitalares.
Morro dos Cavalos volta ao debate político e técnico
Não é a primeira vez que o Morro dos Cavalos entra no centro do debate sobre infraestrutura rodoviária. O trecho, com histórico de acidentes graves, carece de intervenção federal há décadas. A construção de um túnel, proposta desde 2007, permanece emperrada por falta de licenciamento ambiental e impasses contratuais com a concessionária Arteris Litoral Sul.
Especialistas apontam que a topografia do local, somada à intensa movimentação de veículos pesados, configura uma combinação de alto risco. O engenheiro rodoviário Paulo César de Souza, da UFSC, destacou em estudo publicado na Revista Transportes que “a ausência de alternativas viárias e a curva acentuada no km 233 aumentam exponencialmente o potencial de incidentes graves envolvendo cargas inflamáveis”.
O episódio do último domingo reaqueceu a discussão sobre a vulnerabilidade estrutural da BR-101. Enquanto o laudo da PRF não é finalizado, crescem as pressões por ações imediatas do Governo Federal e da concessionária para que tragédias como essa não voltem a se repetir.
- Carreta carregada com etanol tombou e explodiu no km 233 da BR-101
- Incêndio atingiu 24 veículos e deixou cinco pessoas feridas
- Tacógrafo foi destruído, dificultando análise técnica do acidente
- PRF elabora laudo com base em vestígios no asfalto e dinâmica da colisão
- Trânsito ficou bloqueado por mais de 15 horas, com filas de até 19 km
- Morro dos Cavalos é considerado um dos trechos mais críticos da BR-101
- Governador cobra construção de túnel com investimento previsto de R$ 1,2 bi
- Equipes de emergência atuaram com 36 bombeiros e seis caminhões de combate
- Transporte de produtos perigosos exige protocolo técnico rigoroso
- Debate sobre infraestrutura da BR-101 volta ao centro da política pública