A insegurança no trecho do Morro dos Cavalos, em Palhoça, vem se agravando com o tempo. O local, único da BR-101 em Santa Catarina que ainda não foi duplicado, voltou ao centro do debate após um acidente grave envolvendo um caminhão com etanol, deixando feridos e dezenas de veículos destruídos. O episódio reacendeu a urgência por uma solução definitiva.
Com apoio da Bancada do Sul da Alesc, deputados estaduais elaboraram uma moção solicitando audiência com o governo federal. A proposta exige o destravamento do projeto de construção do túnel duplo, cuja licença ambiental já foi concedida, mas que segue paralisado por entraves políticos e institucionais.
Perigo diário no trecho do Morro dos Cavalos
Entre curvas fechadas, pista simples e tráfego intenso, o Morro dos Cavalos tem protagonizado episódios de caos. Mesmo com alertas constantes da Polícia Rodoviária Federal, o trecho segue vulnerável, e qualquer acidente ali paralisa parte do estado. A BR-101, fundamental para o escoamento da produção catarinense e o tráfego entre Sul e Sudeste, trava completamente com um simples bloqueio.

Desde 2018, foram contabilizados 237 acidentes no local, com um total de 237 feridos e ao menos uma morte. Esses dados reforçam a gravidade de uma estrada que opera há décadas em condições que não acompanham a crescente demanda de transporte rodoviário.
Obra do túnel já conta com licença desde 2018
Apesar da morosidade, o projeto do túnel não está no papel por falta de planejamento. A licença ambiental de instalação foi concedida ainda em 2018, o que sinaliza que os estudos técnicos foram superados. O DNIT já definiu que a solução viável para o problema é a construção de um túnel duplo de 2,6 quilômetros, ligando os dois lados da serra com segurança e fluidez.
Mesmo com o aval da Fundação Nacional do Índio (Funai) e apoio da comunidade indígena local, o projeto segue emperrado. O orçamento, segundo dados do próprio Ministério dos Transportes, ultrapassaria R$ 400 milhões, mas nenhuma previsão orçamentária concreta foi inserida nas leis de diretrizes orçamentárias federais nos últimos anos.
Entraves políticos paralisam solução definitiva
A disputa institucional e a falta de coordenação entre governo federal e órgãos executores adiam indefinidamente a execução da obra. A Bancada do Sul argumenta que não há mais justificativa para a omissão, e cobra uma resposta direta do Planalto. O pedido de audiência com o presidente da República e o ministro dos Transportes busca justamente confrontar a inércia com os dados de urgência.
A mobilização inclui ainda o Fórum Parlamentar Catarinense, que agrega deputados federais e senadores, com a expectativa de ampliar o peso político da demanda. A obra, já tratada como prioridade nos planos regionais, segue fora da pauta nacional.
Impactos econômicos e logísticos se acumulam
O bloqueio da BR-101 no Morro dos Cavalos representa prejuízos bilionários em médio e longo prazo. Caminhões parados, mercadorias perecíveis perdidas e atrasos em entregas comprometem a logística de uma das regiões mais produtivas do país. Um estudo de impacto logístico do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) aponta que cada hora de paralisação em rodovias estratégicas pode causar perdas acima de R$ 1,5 milhão.
Santa Catarina depende da BR-101 para exportações via porto de Itajaí e para a circulação de insumos industriais. Um trecho instável como o do Morro dos Cavalos compromete diretamente a competitividade das empresas e a confiabilidade da infraestrutura estadual.
Segurança pública e riscos ambientais se somam à urgência
O recente acidente com o caminhão-tanque não expôs apenas o risco de colisões. Houve vazamento e incêndio, o que ampliou o alerta para riscos ambientais sérios. A proximidade de áreas de preservação e de comunidades indígenas torna o cenário ainda mais delicado. A ausência de uma rota alternativa segura eleva a complexidade do problema.
Especialistas em segurança viária, como o engenheiro Paulo Guimarães, apontam que “qualquer trecho de rodovia com alto fluxo e geometria acidentada precisa ser redimensionado com urgência”. O alerta ecoa entre entidades técnicas, que já recomendaram a execução imediata da obra em audiências anteriores na Comissão de Infraestrutura do Senado.
Mobilização da sociedade civil pode ser determinante
Enquanto o projeto segue travado entre gabinetes, moradores da região e organizações civis têm se mobilizado para pressionar autoridades. A Associação Empresarial da Região Metropolitana da Grande Florianópolis lançou recentemente uma carta pública pedindo prioridade absoluta para o túnel. A pressão popular tende a crescer, especialmente após novos episódios de risco.
A sociedade catarinense parece ciente de que a espera por uma solução técnica não se sustenta mais diante da evidência dos fatos. A questão extrapolou o campo técnico e político e se tornou tema de sobrevivência e dignidade para quem depende da rodovia diariamente.
- Morro dos Cavalos permanece como o único trecho da BR-101 em SC não duplicado
- Desde 2018, o local registrou 237 acidentes com 237 feridos e uma morte
- Licença ambiental para o túnel já foi emitida e o projeto está pronto
- Entraves políticos e falta de orçamento impedem o início das obras
- Prejuízos econômicos afetam produção, comércio e exportações
- Mobilização da Alesc inclui pedido de audiência com o governo federal