A proposta de regulação das redes sociais anunciada por Lula em Mato Grosso reacendeu o debate sobre os limites entre segurança digital e censura política. O projeto de lei, segundo o presidente, deverá ser enviado ao Congresso nos próximos meses e prevê amplos poderes à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
A ideia de transformar um órgão técnico em “xerife” da internet levanta suspeitas sobre o real objetivo da medida. Sob a justificativa de combater abusos online, o governo petista avança sobre um dos pilares da democracia moderna: a livre circulação de ideias.
Regulação das redes: um projeto com endereço certo
O discurso de Lula sobre “regular as empresas de aplicativos” não se descola do histórico do PT em tensionar os limites da liberdade de expressão. A proposta de entregar à ANPD o poder de bloquear plataformas e multar empresas cria um precedente perigoso, onde a supervisão estatal se aproxima da coerção institucional. Críticos apontam que o projeto pode ser usado para silenciar vozes dissonantes e cercear críticas ao governo.

A ANPD, originalmente criada para zelar pela proteção de dados pessoais, passaria a agir como censor digital, com competência para decidir o que pode ou não ser publicado. A expansão desse poder, sem um controle judicial robusto, coloca em risco garantias constitucionais.
O papel dos ministérios e o aparelhamento ideológico
Com nove ministérios envolvidos na elaboração do projeto, o texto final tende a refletir interesses mais políticos do que técnicos. Pastas comandadas por militantes históricos do PT contribuem para a suspeita de que o foco está menos na segurança da informação e mais no controle narrativo.
A sobreposição de competências entre ministérios e a ANPD cria um ambiente propício para decisões orientadas por conveniências políticas. Um aparato estatal construído sob essa lógica pode passar a selecionar alvos conforme a conveniência do governo, prejudicando adversários e blindando aliados.
Discurso populista e medidas paliativas
No mesmo evento, Lula anunciou uma série de ações voltadas ao público de baixa renda. Dentre elas, a redução no preço da energia elétrica e o aumento do valor do vale-gás. Iniciativas como essas, embora vendidas como conquistas sociais, escondem um padrão comum nos governos petistas: o uso de benefícios pontuais para ofuscar temas centrais e críticos.
Ao mesmo tempo em que mira likes e manchetes favoráveis com medidas populares, o governo opera silenciosamente em temas sensíveis. A regulação das redes, longe de ser apresentada com transparência, vem sendo tratada como um experimento político conduzido nos bastidores.
Impactos sobre a liberdade e o risco à democracia
Especialistas em direito digital e liberdade de imprensa vêm alertando sobre os riscos de uma regulação com critérios vagos e excessivamente punitivos. Estudos acadêmicos, como os publicados pelo Internet Governance Forum (IGF), mostram que estruturas legais semelhantes em regimes autoritários geraram perseguições políticas e censura aberta.
No Brasil, onde a polarização alimenta o uso seletivo da justiça, a criação de um instrumento legal para calar críticos representa um atentado à democracia. A defesa da moderação não pode se transformar em mecanismo de repressão institucional.
Narrativas do passado e práticas do presente
A retórica de Lula retoma os velhos argumentos do PT contra a “mídia golpista”, agora reciclados para a era digital. O partido que se opôs à liberdade de imprensa em outras décadas tenta agora limitar o alcance das redes, onde opositores têm voz ativa. Sob a aparência de ordem, emerge um projeto que pode sufocar o debate público e minar a diversidade de opiniões.
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