Bugio-ruivo reaparece na Mata Atlântica após mais de dois séculos de ausência. A reintrodução na Lagoa do Peri, em Florianópolis, completa um ano com resultados animadores para a conservação da espécie.
Monitoramento rigoroso confirma a adaptação dos grupos soltos, reforçando a importância de programas de refaunção. A experiência pode abrir caminho para o retorno de pequenos felinos nativos na região.
Bugio-ruivo retorna ao seu habitat natural
Estima-se que o bugio-ruivo (Alouatta guariba) tenha desaparecido da região de Florianópolis há cerca de 260 anos. Em março de 2024, um grupo da espécie foi solto na Lagoa do Peri, dentro do Monumento Natural Municipal, marcando a primeira reintrodução documentada na cidade.

O processo envolveu uma avaliação rigorosa das áreas de soltura e um período de adaptação em viveiros. Com o apoio da Floram e do Instituto Fauna Brasil, pesquisadores acompanharam a evolução dos animais em liberdade. A observação revelou que os grupos soltos exploram e estabelecem territórios distintos dentro da unidade de conservação.
Monitoramento confirma a adaptação dos grupos
Ao longo do primeiro ano, cinco métodos distintos permitiram acompanhar os bugios-ruivos reintroduzidos. Armadilhas fotográficas, drones termais, gravadores de voz, buscas diretas e a ciência cidadã garantiram informações precisas sobre a localização e comportamento dos primatas.
O primeiro grupo demonstrou maior mobilidade, explorando toda a área do MONA Peri. O segundo permaneceu fiel ao território inicial, sugerindo uma adaptação bem-sucedida ao novo ambiente. Registros confirmaram interação social ativa e reprodução, evidências cruciais da integração ao ecossistema.
Desafios e contribuição da comunidade
Mesmo com os avanços, o projeto enfrentou desafios. Fatores climáticos prejudicaram as operações de campo, e furtos de equipamentos comprometeram parte do monitoramento. Apesar disso, a colaboração da comunidade foi essencial.
Moradores da região participaram do monitoramento, registrando avistamentos e sons dos bugios-ruivos. Essa prática, conhecida como ciência cidadã, fortaleceu a proteção dos indivíduos reintroduzidos e ampliou a conscientização ambiental.
Possibilidade de reintrodução de pequenos felinos
A experiência com os bugios-ruivos impulsionou novas pesquisas sobre refaunção. Estudos analisam a viabilidade de reintroduzir pequenos felinos, como o gato-maracajá (Leopardus wiedii) e o gato-do-mato-do-sul (Leopardus guttulus), extintos localmente devido à fragmentação do habitat.
A ausência desses predadores impactou o ecossistema, favorecendo a proliferação de espécies invasoras como os saguis. Pesquisadores buscam estratégias para restabelecer o equilíbrio natural e ampliar a biodiversidade da Ilha de Santa Catarina.
- Bugio-ruivo foi reintroduzido após 260 anos de extinção local.
- Monitoramento indicou sucesso na adaptação e reprodução da espécie.
- Comunidade contribuiu para o acompanhamento dos grupos soltos.
- Desafios incluem condições climáticas e furtos de equipamentos.
- Estudos consideram a reintrodução de pequenos felinos nativos.
- VOCÊ SABIA ?
O bugio-ruivo (Alouatta guariba), um dos maiores primatas das Américas, é conhecido pelo seu impressionante rugido, que pode ser ouvido a até 5 km de distância. Esse som poderoso é produzido graças a um osso hioide ampliado em sua garganta, permitindo que o bugio se comunique com seu grupo e marque território sem gastar muita energia. Além disso, são primatas de hábitos tranquilos e passam grande parte do dia descansando, economizando energia devido à sua dieta baseada em folhas, que são de difícil digestão.