Trinta crianças do Núcleo de Educação Infantil Campeche vivenciaram, na manhã de quarta-feira, uma imersão no universo da pesca artesanal. A caminhada até o Rancho do Seu Getúlio, feito a pé com os professores e a monitora, levou o grupo ao encontro da cultura e da história que moldam o cotidiano de uma comunidade costeira de Florianópolis.
O rancho, erguido há mais de sete décadas, abriga embarcações históricas e funciona como ponto de transmissão de saberes locais. O objetivo da visita, segundo a direção da unidade, concentrou-se em conectar o conteúdo trabalhado em sala com vivências reais de preservação ambiental e respeito às tradições.
Pesca artesanal e cultura local
A recepção ficou por conta de Ivanir Aroldo Faustino, atual administrador do rancho e referência local em práticas tradicionais. Em diálogo com as crianças, Ivanir apresentou os fundamentos da pesca artesanal: atividade exercida por famílias, com uso de redes simples e embarcações de pequeno porte. Essa forma de trabalho, além de sustentar comunidades inteiras, conserva práticas que resistem à industrialização do mar.

Com uso de linguagem acessível, o anfitrião explicou como o pescado local chega até a mesa sem recorrer a processos de grande escala, despertando nos pequenos o senso de pertencimento e valorização da cultura local.
Impactos do lixo marinho
Outro ponto central da visita girou em torno da poluição marinha. Ivanir abordou, de forma lúdica, como o lixo descartado incorretamente, como sacolas e garrafas plásticas, confunde a fauna aquática e causa a morte de diversos animais marinhos.
Pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina apontam que mais de 70% do lixo encontrado no litoral da capital é composto por resíduos plásticos. Essa estatística sustenta a urgência de atividades educativas desde a infância, como a realizada no rancho, para formar cidadãos mais conscientes.
Canoas de garapuvu: símbolos vivos da tradição
Entre redes e histórias, as crianças tiveram contato com as três canoas do rancho: Glória, Glorinha e Zé Perri. Cada uma delas carrega marcas do tempo e da história de pescadores locais. Feitas com troncos de garapuvu, árvore nativa e símbolo de Florianópolis, essas embarcações ensinam mais do que navegação — falam de pertencimento, memória e resistência cultural.

A canoa Glória, em especial, remonta à década de 1950 e foi construída por Seu Deca, pai de Getúlio Manoel Inácio, figura central da pesca artesanal no Campeche. O nome da embarcação homenageia a filha do construtor e permanece como relíquia viva da tradição pesqueira.
Legado de Getúlio Manoel Inácio
Getúlio, falecido em 2018, deixou mais que memórias: estruturou a Associação dos Pescadores Artesanais do Campeche e criou eventos como a Missa Campal da Tainha, que ainda hoje marca a abertura da safra. Para manter viva essa trajetória, familiares fundaram o Instituto Getúlio Manoel Inácio, voltado à preservação dos saberes e práticas da pesca artesanal.
Ao final da visita, o sentimento era de encantamento, mas também de aprendizado. Crianças com apenas quatro e cinco anos já passaram a associar mar, tradição e respeito à natureza como parte de uma mesma realidade.
Pontos principais
- Crianças do Neim Campeche visitam o Rancho do Seu Getúlio.
- Aprendizado prático sobre pesca artesanal e cultura local.
- Conscientização sobre o impacto do lixo nos oceanos.
- Contato com canoas feitas de garapuvu e o legado de Getúlio Inácio.