A capital catarinense se prepara para uma transformação no transporte público. Em busca de conhecimento técnico e exemplos de sucesso, uma missão liderada pelo Floripa Sustentável esteve em Curitiba para observar de perto a operação do sistema BRT implantado há 50 anos na cidade paranaense.
O grupo, formado por representantes do poder público, empresas de transporte e entidades civis, teve acesso direto à infraestrutura e à gestão de um modelo que inspirou cidades no mundo todo. A visita técnica ocorre no momento em que Florianópolis inicia a implantação de seu próprio BRT, com recursos federais já garantidos.
Sistema BRT e suas canaletas exclusivas
Criado em 1974, o sistema curitibano de Bus Rapid Transit foi pioneiro ao reservar faixas exclusivas para ônibus — as chamadas canaletas. Este detalhe técnico, aparentemente simples, tem garantido eficiência ao modelo durante cinco décadas. O segredo está na priorização absoluta do transporte coletivo frente ao individual, o que elimina interferências e reduz o tempo de viagem.

Ao longo dos anos, Curitiba aprimorou a infraestrutura e a integração do sistema, incluindo estações-tubo com pré-embarque e controle de tempo nas paradas. A experiência da cidade é vista por especialistas como uma referência global. Segundo o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), a implementação de canaletas exclusivas aumenta a velocidade média dos ônibus em até 35%.
Intercâmbio técnico entre Florianópolis e Curitiba
Durante a missão, os representantes de Florianópolis percorreram trechos da linha Leste-Oeste do BRT curitibano e participaram de exposições técnicas sobre planejamento e operação. A recepção ficou por conta do prefeito Eduardo Pimentel, que destacou os ganhos do modelo em mobilidade urbana e qualidade de vida.
Foi nesse contexto que Rafael Hahne, secretário de Infraestrutura da Capital catarinense, reforçou o foco da gestão em melhorar a fluidez e a qualidade do transporte. As primeiras linhas do BRT de Florianópolis devem conectar os terminais Titri, Tisac e Ticen. A cidade já conta com R$ 159 milhões do Ministério das Cidades para dar início às obras.
A missão, segundo o coordenador Roberto Costa, mostrou na prática como um sistema bem planejado pode alterar a lógica da mobilidade urbana. A observação do tráfego fluido dos ônibus nas canaletas sem interferência de carros ou semáforos foi apontada como o ponto mais marcante da visita.
Os nomes por trás da missão técnica
A visita contou com a presença de figuras relevantes do cenário urbano de Florianópolis. Estiveram em Curitiba: Roberto Costa, Rafael Hahne, Ivanna Tomasi, Araújo Gomes, Cássio Taniguchi, Marcela Branco Sardá, Eduardo Hirt, Ricardo Junkes, Geovanni das Chagas, Ivan da Silva Couto Junior, Fernando Bond, Hélio Leite, Ricardo Pastrana, Lorena Babot, Kaliu Teixeira, Gildo Formento, Roger Silva, Fábio Queiroz e Gustavo Taniguchi.
Cássio Taniguchi, ex-prefeito de Curitiba e atual coordenador de Mobilidade Urbana do Floripa Sustentável, foi homenageado pela prefeitura local durante a missão. Com histórico na criação do modelo original curitibano, Taniguchi destacou que qualquer cidade com mais de 500 mil habitantes pode adotar o sistema com sucesso, desde que adaptado às suas particularidades.
Aspectos técnicos que sustentam o modelo BRT
O modelo BRT não depende apenas de ônibus articulados ou vias exclusivas. Envolve planejamento urbano, gestão operacional, controle de fluxo e tecnologia embarcada. Sistemas de bilhetagem antecipada, embarque em nível e semáforos inteligentes são elementos que reforçam a eficiência.
De acordo com estudo publicado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), um corredor BRT bem implantado pode transportar até 45 mil passageiros por hora em cada sentido. Isso representa capacidade próxima à de sistemas de metrô, com custos muito inferiores. A simplicidade na implementação torna o modelo mais viável para cidades em desenvolvimento.
Curitiba, ao longo dos anos, testou diferentes tipos de ônibus, rotas integradas e tarifação centralizada. A cidade mantém subsídios operacionais ajustados mensalmente, o que garante previsibilidade ao sistema. Em Florianópolis, a troca de informações durante a missão técnica buscou entender esses aspectos operacionais para replicar, com as devidas adaptações, o que funciona há décadas.
Desafios e expectativas para Florianópolis
Mesmo com geografia mais complexa, Florianópolis caminha para adotar um modelo próprio de BRT. A topografia insular e os gargalos viários exigem um plano cuidadoso de adaptação. A prefeitura pretende atuar em duas frentes: requalificação das vias e estruturação da operação.
O novo sistema poderá alterar a matriz de deslocamento da cidade, atraindo mais usuários para o transporte coletivo e aliviando a pressão sobre o trânsito. Segundo o IBGE, a cidade já ultrapassa os 500 mil habitantes, com mais de 320 mil veículos registrados. A adoção de um sistema rápido e eficiente é vista como urgente.
Com o aprendizado absorvido em Curitiba, a expectativa dos envolvidos na missão é aplicar soluções inteligentes e sustentáveis em Santa Catarina. O investimento público será apenas o ponto de partida. A qualidade da operação, a adesão da população e a continuidade política darão o tom do sucesso do novo modelo.
- Curitiba usa canaletas exclusivas desde 1974
- BRT transporta até 45 mil passageiros por hora
- Florianópolis investirá R$ 159 milhões no novo sistema
- Missão técnica analisou operação e subsídios em Curitiba
- Cássio Taniguchi foi homenageado por idealizar o modelo