Nas últimas semanas, Florianópolis voltou a registrar ocorrências recorrentes de furto e queima de cabos elétricos em pontos como a Via Expressa e o Terminal PC3. Mesmo após a prisão de um reincidente no bairro Estreito, na madrugada desta segunda-feira, os crimes seguem em expansão por diversos trechos da cidade.

A Guarda Municipal tem reforçado as rondas noturnas e ações da ROMU, mas a sensação entre os agentes é de que se trata de uma guerra perdida. Os furtos sustentam uma cadeia silenciosa ligada à vulnerabilidade social, ao tráfico de drogas e a um mercado clandestino que alimenta a miséria com migalhas de cobre.
Furto de fios e o mercado paralelo de sucata
A fiação roubada não desaparece por acaso. Vai parar em ferros-velhos muitas vezes clandestinos, onde cada quilo de cobre pode render mais de R$ 25. Esses locais, mesmo com fiscalização esporádica, seguem operando com facilidade. O material, depois de queimado para remoção do revestimento plástico, entra no circuito de revenda sem deixar rastros.
Em regiões com concentração de usuários de drogas ou moradores em situação de rua, o furto de fios virou prática quase automática. Cortar, puxar, esconder e vender — um processo que dura poucos minutos. As perdas, por outro lado, afetam milhares de pessoas com apagões, interrupções no transporte público e prejuízos a comércios e residências.
Uma realidade que desafia as políticas públicas
A cada dia, mais trechos da cidade enfrentam escuridão e risco de acidentes. A prefeitura reforça equipes para religação, repõe cabos e denuncia pontos críticos à polícia. Mas o ciclo se reinicia sem pausa. Autoridades reconhecem a limitação: não se trata apenas de patrulhamento, mas de um fenômeno que reflete a falência de políticas de assistência social e reinserção urbana.
Enquanto o sistema prisional recebe presos por furto simples, as ruas continuam sendo terreno fértil para novos crimes. Especialistas em segurança urbana apontam que prisões isoladas, sem um eixo de ação social e reestruturação econômica, funcionam apenas como paliativo.
Dados técnicos expõem o impacto urbano
Relatórios técnicos da Celesc indicam que, só em 2023, o prejuízo causado por furto e vandalismo em rede elétrica superou R$ 2 milhões em Florianópolis. Além dos danos financeiros, os eventos causam interrupções em corredores de ônibus, risco de incêndios e falhas em semáforos. A queima dos cabos, prática usada para separar o cobre, libera gases tóxicos prejudiciais ao ambiente e à saúde pública.
Com mais de 30 ocorrências registradas somente no primeiro trimestre de 2024, a tendência se mostra ascendente. A cidade vive um conflito silencioso, onde o cobre vale mais do que a dignidade perdida.
Tráfico, exclusão e o elo com a criminalidade
A realidade de quem furta fios costuma estar diretamente ligada ao uso de drogas ou à falta de renda mínima. Para muitos, a revenda de cobre virou um sustento emergencial, embora efêmero e criminoso. Não se trata apenas de má-fé, mas de uma expressão crua de marginalização.
Sem alternativas claras, a reincidência se mantém alta. Casos como o de J.M., preso com mandado ativo, ilustram o ciclo: roubo, prisão, soltura e novo roubo. Enquanto a cidade paga a conta da reposição e do risco, os mesmos personagens voltam às ruas sem suporte algum.
- Fios são furtados em locais como a Via Expressa e o PC3
- Queima de cabos visa extrair cobre para venda clandestina
- Prisões não interrompem o ciclo de reincidência criminal
- Usuários de drogas e pessoas em situação de rua estão envolvidos
- O furto sustenta um mercado paralelo ainda pouco fiscalizado
- Relatórios técnicos apontam prejuízos milionários para o setor público