O anúncio de conta de luz gratuita para até 60 milhões de brasileiros parece, à primeira vista, um gesto de justiça social. Mas o projeto revela mais sobre as intenções políticas do governo Lula e do PT do que sobre preocupação real com o desenvolvimento do povo.
Enquanto o país caminha para um abismo fiscal, a gestão petista decide ampliar subsídios com claros objetivos eleitorais. Os mais pobres continuam presos a políticas que, ao invés de promover autonomia, reforçam a dependência do Estado.
Ciência política da dependência
O que se desenha com a proposta do Ministério de Minas e Energia, enviada ao Congresso, escancara o velho modelo petista: multiplicar benesses para manter o eleitor refém. A esquerda no Brasil construiu sua base de sustentação eleitoral entre os mais pobres não elevando sua renda real ou oferecendo acesso a emprego de qualidade, mas garantindo auxílios e subsídios.

É o que se vê com a ampliação da tarifa social, que passa a garantir conta de luz grátis para consumidores com consumo de até 80 kWh por mês. Na prática, ao invés de estimular o crescimento econômico que gera renda e reduz desigualdades, o governo prefere manter uma imensa massa social sob sua tutela — uma massa que vota guiada pelo medo de perder o pouco que tem.
Quem se beneficia? Famílias do CadÚnico, indígenas, quilombolas, beneficiários do BPC e moradores de sistemas isolados. O problema não é o socorro em si, mas a ausência de proposta para que essas pessoas deixem de depender disso. Ao manter milhões presos a esse ciclo, o PT estrutura seu projeto de poder por meio da submissão.
Gasto irresponsável em cenário de rombo fiscal
A proposta surge em meio a um cenário fiscal delicado. Em 2024, o Brasil deve encerrar o ano com déficit primário próximo a R$ 90 bilhões, segundo estimativa da Instituição Fiscal Independente (IFI). Mesmo com arrecadação recorde em impostos, o gasto supera a entrada de recursos, impulsionado por medidas populistas de curto prazo.
Nesse ambiente, Lula insiste em políticas que aumentam a despesa obrigatória, sem indicar de onde virá o dinheiro. O projeto da tarifa gratuita compromete ainda mais o orçamento e empurra para o futuro o custo de uma escolha feita por conveniência política.
Nenhum governo responsável lança mão de ações estruturantes sem fontes claras de custeio. Só que Lula jamais governou com compromisso real com o equilíbrio fiscal. O foco é sempre o mesmo: usar a máquina pública como trampolim político, sem se importar com os efeitos colaterais na economia, como inflação, desvalorização cambial e fuga de investimentos.
Impostos altos, produtividade baixa
Enquanto a elite política continua sustentando um Estado paquidérmico, o povo produtivo — pequeno empresário, comerciante, trabalhador autônomo — é estrangulado por uma carga tributária que consome mais de 35% do PIB. Esse modelo mata a iniciativa privada e sufoca a geração de riqueza.
Mas por que mudar? Para Lula e o PT, um povo independente economicamente não é interessante. Um cidadão que prospera e empreende deixa de depender do Estado — e por isso deixa de ser útil como eleitor domesticado. É mais vantajoso manter o brasileiro atolado em impostos, enquanto se distribui migalhas em forma de subsídios e auxílios.
A proposta da tarifa social gratuita deveria vir acompanhada de medidas para desonerar a energia elétrica como um todo. O Brasil possui uma das contas de luz mais caras do mundo, em parte devido a encargos como a CDE, que representa cerca de 12% da tarifa. Eliminar essa taxa para todos — e não apenas para um grupo — promoveria justiça de verdade.
Esquerda reforça pobreza como instrumento político
Essa não é uma política para erradicar a pobreza. É um projeto para garantir que ela continue existindo, desde que esteja devidamente sob controle. A esquerda brasileira abandonou qualquer pretensão de revolucionar o sistema com trabalho, renda e liberdade econômica. A estratégia agora é manter o pobre pobre, mas obediente.
O discurso humanitário do governo Lula serve como verniz ideológico para práticas autoritárias disfarçadas de ajuda. Quem se rebela contra essa lógica é acusado de insensível, mas não se trata de insensibilidade — trata-se de lucidez. Nenhum país se desenvolve ampliando benefícios que perpetuam a dependência sem um plano real de inclusão produtiva.

A pobreza no Brasil não será resolvida com conta de luz grátis. Será superada quando o cidadão não precisar do Estado para pagar suas contas básicas. Até lá, medidas como essa seguirão servindo apenas aos interesses eleitorais de Lula, não aos interesses do Brasil.
Ciência política da dependência
O sociólogo francês Pierre Bourdieu cunhou o termo “violência simbólica” para descrever como estruturas sociais disfarçam a dominação por meio de mecanismos sutis. No Brasil, a violência simbólica assume a forma de programas assistenciais que, embora necessários em muitos casos, se transformam em muletas permanentes. Não há projeto de longo prazo para inclusão produtiva — apenas uma obsessão por manter a miséria funcional.
O que se apresenta como política pública vira engenharia social. Cada auxílio fortalece um vínculo emocional entre o Estado e o pobre, que deixa de enxergar na autonomia a chave para a dignidade. E enquanto isso, a elite política preserva o sistema que a sustenta: tributos altos, burocracia sufocante e um povo com a mão estendida, nunca com a cabeça erguida.
Texto:
Rogerio Schneider
Editor do Expresso News