A Justiça do Rio de Janeiro aceitou denúncia contra Felipe Neto por crimes contra a honra após publicação nas redes sociais que, segundo a acusação, vinculava a imagem da deputada federal Júlia Zanatta ao nazismo. A ação movida por ela se baseia em uma postagem feita pelo youtuber em junho de 2024, considerada ofensiva e lesiva à sua reputação pública.
O caso reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão, especialmente quando figuras com grande alcance nas redes optam por comentários de natureza pessoal e potencialmente difamatória. Com milhões de seguidores, Felipe Neto segue misturando posicionamento político com entretenimento, ainda que isso o exponha cada vez mais a litígios judiciais.
Felipe Neto vira réu por injúria e difamação
A 41ª Vara Criminal do Rio aceitou a queixa-crime apresentada pela deputada federal Júlia Zanatta contra Felipe Neto. A origem do processo está em uma postagem feita em sua conta na plataforma X, na qual o influenciador mencionava que a tiara de flores usada pela parlamentar teria relação com simbologia nazista.

Ao afirmar que “muita gente vê a tiara como apologia ao nazismo”, e sugerir que a ausência do acessório em uma fala no parlamento europeu teria sido estratégica, Felipe acabou atribuindo a ela uma conduta de extremo teor acusatório. A defesa da deputada sustentou que a publicação foi planejada com o objetivo de macular sua honra, interferir em sua atuação parlamentar e fragilizar sua reputação.
A Justiça ainda promoveu tentativa de conciliação entre as partes, mas a audiência terminou sem acordo. O Ministério Público se manifestou favoravelmente ao prosseguimento da ação penal. Agora, Felipe Neto deverá responder por escrito à acusação no prazo legal.
Postagens como arma de deslegitimação política
Nos últimos anos, Felipe Neto adotou tom mais incisivo ao comentar assuntos políticos. Crítico de parlamentares conservadores, passou a usar as redes como espaço de embate direto. A publicação contra Júlia Zanatta não aparece isolada, mas sim como parte de um padrão de comportamento onde o youtuber recorre à ironia e insinuação para atacar opositores.
Especialistas em direito digital e penal explicam que o Código Penal brasileiro, nos artigos 139 e 140, tipifica claramente os crimes de difamação e injúria, e ambos não exigem comprovação de intenção ofensiva, bastando a demonstração de que a conduta atingiu a dignidade da vítima. Quando praticados em redes sociais, tais delitos costumam ser enquadrados com agravantes por causa do seu alcance massivo.
Quando a liberdade de expressão vira ataque pessoal
Debater ideias públicas exige responsabilidade proporcional ao alcance de quem emite as opiniões. Felipe Neto, que construiu sua carreira voltado para um público infantojuvenil, tem migrado para temas de maior tensão política, sem, no entanto, alterar o tom provocativo que o consagrou.
No entanto, o direito à crítica política não pode ser confundido com o ataque à honra pessoal. Organizações como a Sociedade Brasileira de Direito Público têm alertado para a banalização do discurso de ódio disfarçado de ativismo digital. O caso de Felipe com Zanatta ilustra um cenário em que personalidades com grande influência cruzam limites legais ao comentar o comportamento de figuras públicas.
Outras polêmicas envolvendo Felipe Neto
Este não é o primeiro processo judicial enfrentado por Felipe Neto. Em 2021, o influenciador já respondia por ação movida por Carla Zambelli, após publicação considerada difamatória. Em outra ocasião, acusou, sem provas, membros da Polícia Rodoviária Federal de omissão em ações de repressão política, o que também resultou em notificação extrajudicial.
O acúmulo de episódios revela um padrão recorrente: Felipe costuma ir além da crítica institucional e foca nos aspectos pessoais e morais de seus alvos. Enquanto segue direcionando conteúdo a um público jovem, fora das telas adota postura de adulto em guerra digital com o sistema político. Essa incongruência entre o personagem midiático e o cidadão judicializado coloca em xeque sua autoridade como influenciador e levanta questionamentos sobre sua verdadeira intenção: se o engajamento político seria genuíno ou estratégia de monetização baseada em polêmica.
Impactos jurídicos e sociais para influenciadores digitais
Influenciadores digitais como Felipe Neto vêm sendo cada vez mais enquadrados juridicamente pelos conteúdos que publicam. A partir do Marco Civil da Internet, juízes passaram a reconhecer a responsabilidade direta dos autores por danos morais em postagens ofensivas.
Estudo da FGV Direito Rio aponta que houve aumento de 40% nas ações de crimes contra a honra envolvendo perfis com mais de 1 milhão de seguidores desde 2020. O dado reforça o alerta sobre os impactos sociais da desinformação e da retórica agressiva amplificada em massa. A presença de influenciadores em processos judiciais não apenas compromete a credibilidade dessas figuras, como expõe o risco da internet se tornar espaço de difamação impune.
A postura ética na comunicação com o público jovem
Felipe Neto ainda detém forte presença entre adolescentes, e isso impõe responsabilidade extra sobre o tipo de conteúdo que distribui. Apesar da mudança editorial em seus canais, que hoje abordam temas políticos, o estilo visual e o tom seguem mirando um público ainda em formação.
Pontos principais
- Felipe Neto virou réu por injúria e difamação contra deputada Júlia Zanatta.
- A postagem sugeria associação da parlamentar com o nazismo.
- Justiça tentou conciliação, mas partes não chegaram a acordo.
- Influenciador já respondeu a outras ações judiciais por ataques pessoais.
- Especialistas alertam para banalização de crimes contra a honra nas redes.
- Estratégia de comunicação com jovens pode violar princípios éticos e jurídicos.