A obra-prima inacabada de Mozart ganha vida novamente em Florianópolis neste período de reflexão pascal. A Camerata Florianópolis apresenta o Requiem em Ré menor (K.626), criando um momento de profunda conexão entre a espiritualidade cristã e a genialidade musical do compositor austríaco.
O Teatro Ademir Rosa será palco desta experiência musical singular que reúne 29 cantores e 21 músicos sob a batuta do maestro Jeferson Della Rocca. A escolha desta obra, cujos primeiros versos “Requiem aeternam dona eis, Domine” (dá-lhes o repouso eterno, Senhor) simbolizam o luto e a oração pelos mortos, não poderia ser mais apropriada para a data.
O mistério por trás do último trabalho de Mozart
A história do Requiem em Ré menor está envolta em mistério e coincidências que parecem premonitórias. Em 1791, Mozart recebeu a visita de um estranho encapuzado que lhe encomendou uma missa fúnebre, oferecendo um generoso adiantamento mas recusando-se a revelar sua identidade.

O musicólogo Nicholas Kenyon, em sua obra “Mozart: Vida, Legado e Opus” revela que durante a composição, Mozart teria confessado a sua esposa Constanze o pressentimento de que estaria escrevendo seu próprio réquiem. A premonição mostrou-se tristemente verdadeira, pois o compositor faleceu antes de completar a obra, deixando apenas partes do Introitus e do Kyrie totalmente finalizadas.
A composição foi posteriormente concluída por Franz Xaver Süßmayr, discípulo próximo ao maestro, baseando-se nos rascunhos deixados por Mozart. Estudos musicológicos recentes indicam que aproximadamente 70% da estrutura musical que conhecemos hoje contém efetivamente a marca do gênio de Salzburgo.
Uma convergência entre música e espiritualidade pascal
A apresentação do Requiem na Sexta-Feira Santa estabelece uma conexão simbólica poderosa. O dia que marca a morte de Cristo encontra eco nas notas solenes da missa fúnebre de Mozart, convidando o público a uma reflexão sobre a transcendência.
Os solos serão interpretados por um quarteto de vozes excepcionais: Masami Ganev, Débora Almeida, Guilherme Albanaes e Javier Venegas. Albanaes também assina a preparação vocal do coro, garantindo a precisão técnica necessária para os desafiadores trechos corais da composição.
A execução do Requiem envolve técnicas vocais complexas que desafiam os limites dos cantores. Cada seção, desde o solene Introitus até o dramático Lacrimosa, apresenta demandas vocais distintas que exigem um equilíbrio perfeito entre expressividade emocional e controle técnico rigoroso.
O retorno de uma tradição musical
A Camerata Florianópolis retoma uma tradição iniciada em 2017, quando apresentou esta mesma obra no Teatro Ademir Rosa em parceria com o coro Polyphonia Khoros. O concerto deste ano reafirma o compromisso do grupo com o repertório sacro de grande porte.
A orquestra, sob direção de produção de Maria Elita Pereira, conta com o patrocínio do FORT Atacadista e da ENGIE, viabilizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Este apoio demonstra a valorização da música erudita como patrimônio cultural a ser preservado e compartilhado com a sociedade.
A experiência sonora do Requiem mozartiano
A instrumentação escolhida por Mozart para seu Requiem cria uma paisagem sonora única. A combinação de trombones, fagotes e cordas produz texturas sombrias que contrastam com momentos de luminosidade vocal, especialmente nos trechos em que o coro atinge seu pleno potencial.
De acordo com pesquisas da Universidade de Viena, a estrutura tonal do Requiem em Ré menor produz efeitos psicoacústicos que estimulam estados contemplativos no cérebro humano. Esta característica faz da obra não apenas uma experiência estética, mas também uma jornada sensorial que transcende a simples apreciação musical.
- O Requiem de Mozart representa sua última obra, deixada incompleta devido à sua morte em 1791
- A apresentação reúne 29 cantores e 21 músicos sob regência do maestro Jeferson Della Rocca
- Os solos ficam por conta de Masami Ganev, Débora Almeida, Guilherme Albanaes e Javier Venegas
- O concerto acontecerá no Teatro Ademir Rosa em Florianópolis, no dia 18 de abril de 2025, às 20h30
- A obra foi encomendada por um misterioso desconhecido, posteriormente identificado como emissário do conde Walsegg-Stuppach