Nos últimos meses, a imprensa catarinense tem visto repetidos artigos e análises políticas que apontam que o ex-prefeito de Chapecó, João Rodrigues, não será candidato ao governo do Estado em 2026. O argumento central dessas publicações é de que sua candidatura dividiria a direita e enfraqueceria a base bolsonarista, potencialmente favorecendo a oposição. No entanto, por trás dessas declarações e análises, há uma rede de interesses e estratégias políticas que precisam ser examinadas com atenção.
A tese da divisão da direita
O argumento de que a candidatura de Rodrigues poderia fragmentar a direita catarinense não é algo fortuito. Ele parte de um raciocínio lógico dentro do tabuleiro político estadual: atualmente, o governador Jorginho Mello busca consolidar sua reeleição e, para isso, precisa unificar sua base de apoio, evitando o surgimento de um adversário forte dentro do próprio espectro político. João Rodrigues, com sua popularidade crescente e forte inserção no Oeste catarinense, representa uma ameaça direta a esse plano.

A narrativa da divisão da direita tem sido amplamente difundida em análises políticas e reportagens, muitas delas originadas em veículos simpáticos ao governo de Jorginho Mello. A repetição insistente dessa ideia pode ser vista como parte de uma estratégia maior: desgastar João Rodrigues antes mesmo que ele declare oficialmente sua intenção de concorrer ao governo.
Manobras para esvaziar João Rodrigues
Dentro desse contexto, alguns movimentos estratégicos podem ser observados. Primeiro, há uma tentativa de desestimular o próprio Rodrigues, fazendo com que ele reavalie o custo-benefício de uma candidatura ao governo diante de uma suposta pressão da base bolsonarista por unidade. Essa pressão não vem apenas da imprensa, mas também de figuras políticas próximas ao governador, que reforçam publicamente que a prioridade deve ser a reeleição de Jorginho Mello.
Além disso, há um evidente esforço para sugerir que Rodrigues teria um papel mais adequado no Senado, em uma possível chapa com Jorginho Mello candidato à reeleição. Essa sugestão atende diretamente aos interesses do atual governador, que garantiria a manutenção de um palanque forte sem enfrentar um adversário poderoso dentro do mesmo grupo político. Ao mesmo tempo, posiciona Rodrigues como um aliado e não como uma ameaça.
Rodrigues está apenas testando o terreno?
Outros interpretam que a movimentação política de João Rodrigues está, na realidade, medindo sua força antes de definir qual será sua candidatura real. Ao manter a possibilidade de disputar o governo, ele consegue observar a reação do eleitorado e a movimentação de seus adversários, além de negociar melhores condições dentro da estrutura política do bolsonarismo catarinense.
O que não colabora para a tese acima foi a força demonstrada na última semana, quando, em Chapecó, João Rodrigues reuniu milhares de simpatizantes e apoiadores numa manifestação inequívoca de que sua pré-candidatura conta com fortíssimo apoio nas bases.
A influência da imprensa na construção da narrativa
A imprensa tem um papel fundamental na construção da percepção pública sobre os candidatos e suas intenções. Ao propagar com frequência a ideia de que João Rodrigues não será candidato ao governo, certos veículos podem estar agindo de maneira alinhada aos interesses do grupo político de Jorginho Mello. A insistência nesse discurso gera um efeito psicológico no eleitorado e nos próprios aliados de Rodrigues, criando uma sensação de que sua candidatura seria inviável ou prejudicial para a direita.
Os bastidores das alianças e o futuro político de SC
Nos bastidores, as conversas sobre alianças para 2026 já estão acontecendo intensamente. O grupo de Jorginho Mello trabalha para consolidar apoios e evitar fissuras internas, ao mesmo tempo em que monitora os movimentos de João Rodrigues. Figuras influentes do bolsonarismo nacional preferem ver a direita catarinense unida, mas o atual quadro para o próximo pleito não corrobora neste sentido.
Enquanto isso, Rodrigues continua articulando nos bastidores, buscando apoios estratégicos e avaliando seu espaço dentro do jogo político. Caso decida realmente disputar o governo, enfrentará uma campanha agressiva, onde a guerra de narrativas será um dos principais desafios.
A força de Rodrigues e o medo de uma candidatura forte
Se a candidatura de João Rodrigues ao governo não fosse viável ou se ele realmente não representasse um risco ao projeto de reeleição de Jorginho Mello, dificilmente haveria tanto esforço para desconstruí-la publicamente. A insistência em afirmar que ele não será candidato sugere exatamente o contrário: que há um receio real de sua candidatura e de seu potencial de crescimento dentro do eleitorado conservador.
Rodrigues possui um histórico eleitoral sólido e tem um perfil que agrada tanto ao eleitor bolsonarista raiz quanto àqueles que buscam um político mais combativo e menos alinhado às estruturas tradicionais. Seu nome tem forte aceitação no interior do estado, e sua capacidade de mobilização não deve ser subestimada.

Texto:
Rogerio Schneider
Editor do Expresso News