Nos pátios da Polícia Civil, milhares de veículos se acumulam há décadas. Muitos desses automóveis já não oferecem condições de reaproveitamento, seja por dano estrutural ou por impedimentos legais. A exposição prolongada à chuva e ao sol transforma esses espaços em criadouros potenciais do Aedes aegypti.
A operação atua diretamente no cerne desse problema, utilizando maquinário específico para compactação das sucatas e transporte para centros de reciclagem. Em São José, por exemplo, 200 veículos começaram a ser prensados, contribuindo para a liberação de áreas urbanas e a destinação correta dos resíduos metálicos.
Impacto ambiental e sanitário com apoio institucional
Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde, Santa Catarina registrou mais de 30 mil focos do mosquito da dengue apenas nos primeiros meses de 2025. A presença de veículos abandonados, com acúmulo de água, foi identificada como um dos fatores mais relevantes no avanço da doença em áreas urbanas.

A resposta institucional foi articulada em diferentes frentes. O apoio do Tribunal de Justiça viabilizou a celeridade nos trâmites que antes impediam a remoção dos veículos por entraves judiciais. Essa cooperação interinstitucional elevou a efetividade da operação, permitindo que a limpeza ocorresse em escala inédita.
Reciclagem de ferrosos e reaproveitamento de materiais
Os veículos considerados ferrosos – categoria que engloba automóveis e motocicletas sem utilidade para circulação ou peças – não apenas ocupam espaço, como representam risco ambiental. Quando expostos por longos períodos, óleos, fluídos e metais podem contaminar o solo e lençóis freáticos.
Com a compactação e envio para unidades especializadas, os materiais passam por processos de separação e reaproveitamento. Estima-se que mais de 90% da massa metálica dos veículos possa retornar à cadeia produtiva, segundo dados da Associação Brasileira de Reciclagem Automotiva (ABRAUTO). Esse ciclo favorece a sustentabilidade e reduz a demanda por extração de novos recursos minerais.
Planejamento estratégico e metas para todo o estado
A meta definida para esta fase da operação é clara: amassar 2.400 veículos em várias cidades do estado, totalizando 1,5 mil toneladas de sucatas. Esse número representa um avanço considerável frente ao que foi realizado na primeira fase, quando mais de 30 mil veículos foram removidos em 54 municípios.
A escolha das localidades segue critérios técnicos. Áreas com alta incidência de notificações de arboviroses, grande volume de veículos acumulados e logística favorável para a movimentação das máquinas integram as prioridades do cronograma. O planejamento também considera o tempo de permanência das sucatas nos pátios e a ausência de qualquer possibilidade de regularização.
Integração entre saúde, meio ambiente e segurança pública
O esforço para limpar os pátios transcende a questão estética ou administrativa. Trata-se de uma política pública integrada que conecta segurança, saúde e meio ambiente. A liberação dos espaços interfere diretamente no funcionamento da Polícia Civil, que volta a dispor de áreas para veículos apreendidos recentemente.
Especialistas em saúde pública, como o infectologista Artur Timerman, alertam para o papel de criadouros urbanos no ciclo de transmissão de arboviroses. Locais como depósitos e pátios desorganizados concentram fatores ideais para a reprodução do Aedes, dificultando o controle da doença apenas com ações químicas ou educativas.
A operação mostra que a prevenção passa por decisões estruturais. A eliminação de criadouros estáticos representa um passo importante para o controle de epidemias e preservação do espaço urbano, reforçando a importância da continuidade dessa política ao longo dos próximos anos.
- 1,5 mil toneladas de veículos serão prensadas nesta etapa da operação
- 2.400 veículos inservíveis serão removidos em todo o estado
- Primeira fase já retirou mais de 30 mil veículos abandonados
- Metais recuperados seguirão para centros de reciclagem autorizados
- A operação reduz focos do Aedes aegypti e libera espaço para novas apreensões