A reabertura do Restaurante Popular de Florianópolis segue sem data definida, mesmo após mais de um mês do seu fechamento. Anunciado como uma readequação, o encerramento das atividades expôs não apenas a ausência de planejamento, mas também uma crise de segurança pública ignorada até então.
Moradores de rua com históricos de conflitos passaram a disputar o espaço, e as agressões registradas nos arredores obrigaram a Polícia Militar a deslocar equipes para o entorno durante os horários de pico. O restaurante, que deveria oferecer dignidade e acolhimento, tornou-se foco de tensão e insegurança.
Conflitos em série acentuam instabilidade no entorno
Logo após o início das refeições, registros de brigas se intensificaram. Moradores em situação de rua, muitos já conhecidos da polícia, protagonizaram disputas físicas por território ou comida. Alguns desses confrontos acabaram em ferimentos e internações, elevando a gravidade do cenário.

Relatos de comerciantes e frequentadores indicaram medo constante e a sensação de abandono. O policiamento, antes discreto, passou a ser ostensivo, com viaturas fixas durante os horários do almoço. Ainda assim, nem sempre foi possível evitar tumultos, o que acelerou o fechamento temporário do local.
Encerramento anunciado como readequação estrutural
A prefeitura justificou a medida alegando a necessidade de reformular a estrutura e o modelo de gestão do restaurante. O prefeito Topázio Neto afirmou que o espaço “precisa ser modernizado e melhor aproveitado socialmente”. Nenhum detalhe técnico sobre o plano de reestruturação foi apresentado.
A ausência de cronograma e a indefinição da empresa gestora que assumirá o novo contrato evidenciaram a falta de um plano concreto. Técnicos da Secretaria de Assistência Social mencionaram a necessidade de nova licitação, sem, no entanto, confirmar prazos. O termo “readequação” passou a funcionar como resposta genérica diante da pressão popular.
Propostas para transformar o local em centro de empregabilidade
Uma das ideias em análise prevê a substituição do restaurante por um centro de empregabilidade, com serviços como intermediação de mão de obra, capacitação e orientação profissional. A proposta, embora ambiciosa, encontra obstáculos técnicos e orçamentários relevantes.
Segundo levantamento da Federação Catarinense de Municípios, projetos dessa natureza requerem adequações profundas no espaço físico, além de equipe técnica permanente e articulação com o sistema S (SENAI, SENAC, SESC). A transformação do modelo de assistência exige mudança de mentalidade na gestão pública — e, sobretudo, vontade política.
Defensoria Pública tenta restabelecer refeições à população
Diante do impacto social da paralisação, a Defensoria Pública ingressou com Ação Civil Pública, alegando violação ao direito à alimentação de centenas de pessoas em situação de vulnerabilidade. A Justiça, no entanto, indeferiu o pedido por considerar que não houve interrupção arbitrária, mas sim motivada por razões administrativas.
A defensora Ana Paula Fão Fischer apontou que mais de 600 pessoas utilizavam diariamente o serviço, muitas das quais estão sem alternativa alimentar desde o fechamento. A defensoria agora pretende recorrer, alegando omissão do poder público e ineficácia na prestação de serviços essenciais.
Insegurança e abandono ampliam tensão social na região central
A ausência do restaurante afetou diretamente a rotina do centro da capital. Pequenos comerciantes relatam queda no movimento, enquanto moradores enfrentam aumento de abordagens e episódios de violência urbana. O que antes era um espaço de amparo, virou símbolo de um problema estrutural não enfrentado.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) indicam que o número de pessoas em situação de rua no Brasil aumentou 38% desde 2021. Em Florianópolis, a falta de políticas públicas consistentes se reflete no uso indevido de equipamentos sociais, como o restaurante, que deixou de ser solução e passou a ser ponto de conflito.
- Restaurante Popular fechado há mais de 40 dias sem previsão de reabertura
- Violência entre moradores de rua obrigou reforço policial no local
- Prefeitura alegou necessidade de reforma, mas não apresentou cronograma
- Proposta de centro de empregabilidade enfrenta entraves técnicos e políticos
- Defensoria Pública tenta reverter o fechamento por meio judicial
- Comunidade e comerciantes relatam aumento da insegurança no entorno